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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Bichinhos e Gavetas


Estou encerrando a leitura de "As meninas" da Lygia Fagundes Telles, já falei dessa escritora aqui em (7 pecados literários). É um livro bem denso e que tem me dado um trabalho essa semana... As meninas são  Lorena, Ana Clara e Lia. Em um diálogo com uma freira do internato, a Lorena diz uma frase que marcou muito para mim. É essa:
" — A desordem me deprime, Irmã. Ah, se eu pudesse me arrumar por dentro, tudo calminho nas gavetas. Minhocação demais."



Mas por que me identifiquei tanto? Em primeiro lugar pela minhocação, esse remoer eterno que eu tenho. Eu senti até ontem que isso tinha diminuído. Mas isso volta. Como diz uma amiga minha metida em estudar psicanálise. Repetição! 

A desordem, mas o que é a desordem? Eu sei que ela sempre está ai, de vez em quando a gente experimenta (quase sempre). Sendo sincero: a desordem, em maior ou menor grau, está sempre. Mas é desordem conflito, aquela que vai nos impulsionando. A arrumação é  um semblante. Lorena é a mais organizada, que sempre arruma e limpa, toma banho... Mas vejam que as gavetinhas dela não são tão organizadas. Ela tem uma espécie de caso com um homem casado. Eles trocam cartas... Mas acontece nada ou  pouca coisa. Ela vive esperando por ele. Ela passa o dia no quarto ouvindo música, estudando, banhando e pensando. Só(?) Mesmo assim não tem tempo pra se arrumar "por dentro". Fica só na minhocação.

Fiquei pensando nisso. Como a gente se "economiza" o tempo todo. Eu particularmente me sinto oco, vazio. Tem "gavetas" que prefiro pensar "estão vazias, desocupadas ou então já arrumei". Elas vão empoeirando. Fazer o que? Abrir e arrumar dá trabalho. A vontade é deixar assim e ficar na danação mesmo. O segredo é mandar que se ****. Tentar seguir. Mas uma hora a gente não aguenta mais e ai mesmo é que danação chega. Minhocas (em alguns casos elas aparecem em gavetas), traças, baratas vêm e fazem festa. Por fora tudo limpo e arrumado. Por dentro festa dos bichinhos. Não é que seja possível dedetizar tudo e tem bichinho que é até saudável. Mas é melhor conhecê-los e saber deles, do que ficar dizendo por ai: "Aqui está tudo limpo, arrumado ou oco". Triste. Outro dia eu sonhei que tinha uma barata lá no meu quarto. Na verdade eu não vi ela no sonho, mas sabia que ela estava lá, embaixo da cama. Mas eu continuei dormindo. Embaixo da cama a barata.

Essa da gaveta é velha.
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TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. (O trecho citado é da p. 155)
Imagem retirada de Prazer, me chamo livro!

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