Uma senhora gorda
subia a rua iluminada pelas luzes alaranjadas dos postes. Era noite e ele
gostava disso. As casas estavam a sua frente, uma se sobrepondo a outra. Quatro
garotos, do outro lado da rua, conversavam sentados sobre a calçada. Ele estava
apoiado na amurada da laje que se projetava em frente à casa de sua tia, onde residiam ele, sua tia, as duas primas, o marido da tia e o filho deste. O rapaz encostado na laje ouvia as lufadas de vento que incidiam no fone de ouvido. O tum-tum- tururum tum-tum do grave da música martelava fundo. O vento era bom de sentir no pescoço e no abdômen nu. Em que pensava ele? Nas casas a frente, na música que ouvia, no vento bom que sentia... Talvez pensasse em nada. Quem o olhasse lá de baixo, encostado naquela murada da laje (a casa fora construída sobre um terreno acidentado, a laje era uma espécie de terraço; abaixo da laje havia uma garagem e no lado da garagem a escada que subia até a laje) também não saberia dizer.
apoiado na amurada da laje que se projetava em frente à casa de sua tia, onde residiam ele, sua tia, as duas primas, o marido da tia e o filho deste. O rapaz encostado na laje ouvia as lufadas de vento que incidiam no fone de ouvido. O tum-tum- tururum tum-tum do grave da música martelava fundo. O vento era bom de sentir no pescoço e no abdômen nu. Em que pensava ele? Nas casas a frente, na música que ouvia, no vento bom que sentia... Talvez pensasse em nada. Quem o olhasse lá de baixo, encostado naquela murada da laje (a casa fora construída sobre um terreno acidentado, a laje era uma espécie de terraço; abaixo da laje havia uma garagem e no lado da garagem a escada que subia até a laje) também não saberia dizer.
Pensava sim, isso era
identificável... Pensamentos têm cores, sabores, texturas. Aquele era vermelho,
macio, áspero e espocava feito uma uva que a gente pensa estar madura, mas na
verdade não está. Ah sim! Aquele dia se aproximava, o tal dia dos
namorados e ele estava só. Riam dele. Havia sim duas por quem alimentava algum
tipo de afeto, mas eram apenas sentimentos dirigidos a pessoas. Por que ele não
ia em frente? Faltava confiança? Coragem? Gostaria ele de estar só? Sei tanto
quanto quem lê isto, isto é, não posso afirmar nada sobre os motivos...
Sempre que chegava
perto de uma delas se sentia bobo, abestalhado. Algo inexplicável vinha, uma
espécie de inibição, algo bloqueava suas ações. Que bobo! Mas ele sempre
tentava de novo. Talvez algum dia conseguisse. Ele contou a uma
delas, com voz rouca, sobre seus sentimentos. Disse que gostava dela. Disse como gostava. Ela
demorou, mas admitiu o mesmo por ele. Não se assustem, mas foi por telefone que
falaram isso. Por telefone é fácil, mas ao vivo... Ao vivo não conseguia. Mas
sempre tentava de novo e de novo. A repetição tinha sido em vão até aquele
momento. Quem sabe na próxima? Acho que sim. Talvez ela o ajude. Tudo é
possível. Espero que dê tudo certo com ele e ela. A música com grave de
tum-tum-tururum tum-tum- tururum terminou. Agora ele ouvia uma melodia doce e melancólica,
com instrumentos que começavam chorando, mas que no final sorriam... Uma
música, talvez sua favorita. Ele gostava de músicas. Quem sabe na
próxima?